A Síndrome de Ativação Macrofágica (SAM), também conhecida como linfo-histiocitose hemofagocítica secundária (LHHs), é uma condição inflamatória grave e potencialmente fatal. Caracteriza-se por uma resposta imunológica descontrolada, que leva à ativação excessiva de macrófagos e linfócitos T. O resultado é uma “tempestade de citocinas” que pode causar danos a múltiplos órgãos. Este artigo explora os principais aspectos da SAM, desde seus sintomas e critérios diagnósticos até as mais recentes abordagens terapêuticas, com base em evidências científicas.

O Que Causa a Síndrome de Ativação Macrofágica?

A SAM não é uma doença independente, mas sim uma complicação de outras condições médicas. As principais causas subjacentes incluem:

  • Doenças Reumáticas: É frequentemente associada a doenças autoimunes, especialmente a Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) sistêmica e o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).
  • Infecções: Diversos agentes infecciosos podem desencadear a SAM, incluindo vírus (como o Epstein-Barr, citomegalovírus e o vírus da dengue), bactérias, fungos e parasitas.
  • Neoplasias: Certos tipos de câncer, particularmente os hematológicos como linfomas e leucemias, podem estar na origem da síndrome.
  • Medicamentos: Alguns fármacos também têm sido implicados como gatilhos para a SAM.
  • Imunodeficiências: Indivíduos com certas condições de imunodeficiência primária ou adquirida apresentam maior risco.

Principais Sinais e Sintomas: Fique Atento!

A apresentação clínica da SAM pode ser dramática e de rápida progressão. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Febre Alta e Persistente: Geralmente é o primeiro sinal e não responde bem aos antitérmicos convencionais.
  • Hepatoesplenomegalia: Aumento do fígado e do baço, que pode ser detectado no exame físico.
  • Manifestações Hemorrágicas: Devido à queda no número de plaquetas, podem ocorrer hematomas, sangramentos nas gengivas ou em outros locais.
  • Alterações Neurológicas: Dores de cabeça, irritabilidade, convulsões e até coma podem ocorrer em casos graves.
  • Erupção Cutânea: Manchas avermelhadas na pele podem estar presentes.
  • Linfadenopatia: Aumento dos gânglios linfáticos.

Como é Feito o Diagnóstico?

O diagnóstico da SAM é um desafio, pois seus sintomas podem se sobrepor aos da doença subjacente ou de uma infecção grave. O diagnóstico é baseado em uma combinação de achados clínicos e laboratoriais. Os critérios de classificação de 2016 para a SAM em AIJ sistêmica, por exemplo, incluem a presença de febre e um dos seguintes:

  • Critérios Laboratoriais:
  • Contagem de Plaquetas: Baixa (≤ 181.000/µL).
  • Enzimas Hepáticas: Níveis elevados de transaminases (AST > 48 U/L).
  • Triglicerídeos: Aumento dos níveis (> 156 mg/dL).
  • Fibrinogênio: Níveis baixos (≤ 360 mg/dL).
  • Critérios Clínicos:
  • Hepatoesplenomegalia.
  • Sinais de disfunção do sistema nervoso central.
  • Manifestações hemorrágicas.

Além desses, um marcador laboratorial crucial é a ferritina sérica, que geralmente se encontra em níveis extremamente elevados (frequentemente acima de 10.000 ng/mL). A biópsia de medula óssea, baço ou linfonodos pode revelar a presença de hemo fagocitose macrófagos que fago citam outras células sanguíneas, o que é um achado característico, mas não obrigatório para o diagnóstico.

Abordagens de Tratamento: Controlando a Hiper inflamação

O tratamento da SAM é uma emergência médica e visa suprimir a resposta inflamatória exacerbada e tratar a causa subjacente. A abordagem terapêutica é multifacetada e geralmente requer uma equipe multidisciplinar.

As principais estratégias incluem:

  • Corticosteroides em Altas Doses: A pulsoterapia com metilprednisolona é frequentemente a primeira linha de tratamento para controlar rapidamente a inflamação.
  • Imunossupressores: A ciclosporina é comumente usada em combinação com os corticosteroides.
  • Terapia Biológica: Inibidores de citocinas, como a anakinra (um antagonista do receptor da interleucina-1), têm se mostrado eficazes, especialmente em casos associados a doenças reumáticas. Outros biológicos, como o etoposide, podem ser utilizados em casos mais graves, seguindo protocolos como o HLH-2004.
  • Imunoglobulina Intravenosa (IVIG): Pode ser usada como terapia adjuvante para modular a resposta imune.
  • Tratamento da Causa Base: É fundamental identificar e tratar a doença ou infecção desencadeante.
  • Medidas de Suporte: Pacientes com SAM necessitam frequentemente de cuidados intensivos, incluindo suporte para as funções hepática, renal e respiratória, além de transfusões de sangue e plaquetas.

O diagnóstico precoce e a intervenção terapêutica imediata são cruciais para melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade associada a esta síndrome complexa e devastadora. A conscientização sobre os sinais e sintomas da SAM entre profissionais de saúde e pacientes com doenças de risco é fundamental para um desfecho favorável.

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Dra. Ana Maria Loroño
Reumatologista Pediátrica | Pediatra
CRM/SP 171072 | RQE 935751

Referências Científicas
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